O Crefito-12 está lançando a coluna Fala, Fisio! Fala T.O.! Por meio de entrevistas, profissionais são convidados a falar sobre temas diversos de interesse da população e dos profissionais da área. A cada semana serão duas entrevistas, uma com um terapeuta ocupacional, ou como se chama no cotidiano dos profisisonais, o T.O.!! E a outra com o fisio, abreviação dos profissionais fisioterapeutas. A ideia é dar voz dessa forma espontânea aqueles que podem contribuir com um maior conhecimento sobre nossas àreas.
Nesta primeira edição, o tema é o autismo e contamos com a participação do terapeuta ocupacional Dr. Rafael Luiz Morais da Silva, especialista em Desenvolvimento Infantil, Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento com Doutorado em Ciências da Reabilitação. Dr. Rafael também é professor do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Nesta entrevista ele explica o que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e os principais sintomas, além de indicar os procedimentos a serem tomados pelos pais.
Em termos gerais como caracteriza-se o Autismo?
Atualmente, o Transtorno do Espectro Autista é considerado como uma desordem do neurodesenvolvimento que afeta em níveis variados a comunicação/interação social e o comportamento. Pessoas com TEA apresentam singularidades na forma de apresentação destas características, isto quer dizer que nem sempre iremos encontrar na mesma pessoa a mesma intensidade de sinais para todas as características. Podemos encontrar pessoas que falam, outras com dificuldade, ou até mesmo sem a fala. Pessoas com capacidade para interagir socialmente e outras com comprometimento maior. Alguns autistas com alta capacidade intelectual e resolução rápida de problemas, mas com falhas em atividades cotidianas como abotoar a própria roupa por exemplo. Daí o uso termo espectro, dando a ideia de uma ramificação ampliada e única de sinais.
Como o Terapeuta Ocupacional contribui na atenção a pessoas com diagnóstico de Autismo?
O Terapeuta Ocupacional é um profissional imprescindível na equipe. Ele avalia e intervém, se for necessário, no desenvolvimento da pessoa com TEA ao longo de toda a vida, desde que ele/ela apresente falhas na execução de atividades cotidianas, sejam elas atividades de vida Diária, atividades produtivas, de lazer, dentre outras. O Terapeuta Ocupacional, dependendo da faixa etária e dos problemas identificados, pode se apropriar de instrumentos de avaliação para conhecer o que impede esta pessoa de realiza estas ocupações. Hoje temos diversas abordagens de tratamentos eficazes que possibilitam o desenvolvimento destas ocupações.
Quais as principais técnicas, procedimentos ou recursos o Terapeuta Ocupacional lança mão ao atuar junto a uma pessoa com diagnóstico de Autismo?
Poderíamos destacar muitas. A mais central no meu ponto de vista é o Modelo da Ocupação Humana. O terapeuta ocupacional precisa pensar que diante dele tem uma pessoa que precisa ser engajado em ocupações significativas e promotoras de desenvolvimento. Com a especialização do diagnóstico e a abrangência dos critérios diagnósticos, tivemos a abertura para que modelos técnicos especializados tivessem escopo para intervenção clínica e de pesquisa, como por exemplo o Modelo da Integração Sensorial de Ayres, criando pela terapeuta ocupacional norte-americana Anna Jean Ayres na década de 1970. Modelo este que evoluiu e tem muita difusão no mundo.
Quando os pais ou responsáveis de crianças com diagnóstico de autismo devem procurar um Terapeuta Ocupacional?
É preciso buscar uma avaliação assim que o diagnóstico é levantado. Em idades precoces temos que avaliar muitas habilidades e verificar se o que está acontecendo na criança está comprometendo suas atividades, como brincar, o desempenho escolar. Por isso é muito importante procurar este profissional o mais cedo possível. Porém, existem os casos em que os sinais são tão leves que a família ou médico só conseguem detectar a consistência dos sinais de forma mais tardia, com a exigência social crescente. Mesmo assim, ainda é válido a avaliação deste profissional, porque mesmo em idades mais avançadas temos demandas para a criança/adolescentes que precisam ser adaptadas.
Quais principais recomendações você pode oferecer à pais ou responsáveis de pessoas com diagnóstico de Autismo?
Primeiramente, viva seu luto. Receber o diagnóstico que seu filho (a) tem TEA não é fácil. Os pais precisam estar preparados para os enfrentamentos. Se possível procure um profissional psicólogo para lhe ajudar neste momento. Segundo, procure um médico especialista em desenvolvimento infantil, um neuropediatra, ele lhe dará referências de tratamento e prognóstico. Terceiro, faça adesão ao tratamento do seu filho/filha, procure os profissionais especializados e siga as suas orientações, isso é muito importante. A família é a base de tudo. Não adianta buscar os melhores especialistas se em casa você não estimula seu filho corretamente. Quarto conselho, reserve um tempo para ficar com seu filho/filha, almoce em casa, brinque com ele, ajude-o a vestir o uniforme da escola, conte uma história mesmo que ele não “preste atenção na história toda”. Faça disto um hábito diário. Grandes aquisições do Desenvolvimento nascem da convivência cotidiana.