A Dra. Ester Miranda da Silva Pereira graduou-se em Terapia Ocupacional pela Universidade do Estado do Pará (Uepa), e tem especialização em Reabilitação Neurológica; mestrado em Ensino e Saúde na Amazônia, além de ser doutoranda em Educação. Terapeuta ocupacional da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP) e da Unidade de Assistência de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Ueafto/Uepa), ela é preceptora da residência multidisciplinar da Uepa e referência técnica de Terapia Ocupacional da FSCMP. Nesta entrevista à coluna Fala, TO! ela fala sobre Anemia Falciforme.
Em termos gerais como caracteriza-se a Anemia Falciforme?
A anemia falciforme é uma doença hereditária, caracterizada por alteração nas hemácias, responsáveis pelo transporte de oxigênio por todo o corpo. Em condições normais, elas são arredondadas e, assim, transitam facilmente pela corrente sanguínea. Na anemia falciforme, têm a forma de “foice” ou “meia-lua”, o que dificulta sua passagem pelos vasos, levando à oclusão sanguínea e consequente deficiência de oxigenação no organismo. Comumente, essa doença se manifesta ainda no primeiro de ano de vida e está relacionada à elevada taxa de mortalidade, que pode ser reduzida a partir do diagnóstico e tratamento adequados.
Quais as principais consequências da Anemia Falciforme da vida das pessoas?
A anemia falciforme acarreta crises álgicas articulares (sobretudo nos membros superiores e inferiores, síndrome mão-pé, nas crianças de até dois nos), ósseas ou musculares, icterícia, febre, tendência a infecções (desde gripes até pneumonia e meningite), síndrome torácica aguda, AVC, lesões em órgãos como rins, baço e cérebro, prejuízo no crescimento, déficit cognitivo, dentre outras. Dessa forma, ocorre uma ruptura do cotidiano, marcado por restrições e limitações, as quais afetam a capacidade de desempenho de papeis ocupacionais em diferentes contextos. Atividades de cuidados pessoais (alimentação, vestuário e higiene pessoal) e a mobilidade funcional comumente estão prejudicadas pelo quadro de dor e limitação físico-funcional, que podem comprometer o desenvolvimento neuropsicomotor e a participação nas atividades de brincar, escolares e laborais.
Quais as principais técnicas, procedimentos ou recursos o Terapeuta Ocupacional lança mão ao atuar junto a uma pessoa com Anemia Falciforme?
A intervenção terapêutica ocupacional deve considerar a história individual, o contexto e o impacto das condições clínicas na vida de cada um. Os objetivos estabelecidos pelo profissional e paciente/família devem levar em conta as habilidades, limitações, necessidades e os aspectos volitivos do paciente e do cuidador. A partir disso, o terapeuta ocupacional pode lançar mão de técnicas de relaxamento e alívio de dor, estimulação do desenvolvimento neurposicomotor, que pode estar comprometido ou em potencial risco de atraso, inclusive, por várias hospitalizações, estímulos cognitivos, intervenção para melhorar componentes de desempenho como força muscular e amplitude de movimento, orientação para técnicas de conservação de energia, prescrição e confecção de dispositivos de tecnologia assistiva, orientação à família e à escola.
Quando pessoas com diagnóstico de Anemia Falciforme, ou seus familiares, devem procurar um Terapeuta Ocupacional?
Enquanto condição crônica que impacta no cotidiano e afeta funções e estrutura do corpo, em graus variáveis de limitação de atividades ou de restrição de participação, o Terapeuta Ocupacional deve ser procurado tão logo seja feito o diagnóstico, pois se trata de profissional que pode estimular as potencialidades e habilidades e contribuir para melhor qualidade de vida e reorganização da rotina de vida do indivíduo, a partir, por exemplo, de acompanhamento e estimulação do desenvolvimento infantil, habilitação ou reabilitação físico-funcional, orientação para maior autonomia na execução de atividades de vida diária, escolares, de lazer e laborais, emprego de estratégias de enfrentamento e adaptação para o desempenho de seus papeis ocupacionais.
Contato: estermir_to@yahoo.com.br
